O casamento bem-sucedido da Banda do Mar em Americana

Foto: Fernando Galassi/BACKBEAT


Em 2011, Mallu Magalhães e Marcelo Camelo apresentaram, respectivamente, Pitanga e Toque Dela ao mundo. Os dois álbuns, que figuraram em várias listas de melhores do ano explicitando um amor otimista que possuia seus dilemas: ambos eram sobre uma pessoa que estará lá esperando ao fim do dia, seja lá o que for acontecer.

Essa relação entre os dois trabalhos, antes caminhando separadas, apesar de juntas, faz-se presente na Banda do Mar, projeto que o casal montou junto ao músico português Fred Pinto Ferreira e fez sua estreia no estado de São Paulo no último sábado (18), na cidade de Americana.

Mesclando o repertório do álbum de estreia do projeto com canções solo de ambos e músicas de Camelo no Los Hermanos, a banda fez uma apresentação descontraída que, apesar de simples, foi capaz de emocionar os presentes - que não lotaram o Espaço Americana, mas se mostraram dedicados. Da nova banda, Hey Nana, Dia Clarear, Solar e o hit Mais Ninguém foram as mais celebradas. Vermelho e Doce Solidão representaram o Camelo solo, Além do Que Se Vê e Morena coroaram o Los Hermanos, Cena - em uma versão inusitada - Sambinha Bom e Olha Só, Moreno foram as de Mallu e o casal apresentou também a música que os uniu, Janta.

Ver ambos em palco é também ver o desenvolvimento de dois artistas, cada um em seu momento. Camelo se firma como um nome marcante da nova música nacional, talvez um dos maiores representantes. A consagração do Los Hermanos e seu fim na hora certa dividiu lados: surgiram muitas bandas parecidas, mas também surgiram talentos a fim de superar este capítulo. Camelo segue a sua toada, a sua guitarrinha inconfundível e nos dá a chance de ver um ícone cada vez mais ascendente, que se adapta rapidamente a ambientes com uma tranquilidade de rei. Toque Dela só foi o começo da prova de que a banda que o projetou está quase superada.

Foto: Fernando Galassi/BACKBEAT


Mallu, por sua vez, é a artista que sempre procurou ser. Se antes seu talento era camuflado por uma certa retração, hoje Mallu é aberta, natural e faz um belo par nos palcos com o marido. A Banda do Mar, sobretudo, é sobre eles e sobre essa união musical, cada um com seu espaço, mas sempre juntos.

Durante o show de Americana, não faltaram letras cantadas a plenos pulmões e entrega - houve até mesmo um pedido de casamento inesperado no meio da plateia. A banda é, ao mesmo tempo, um fenômeno adolescente, com fãs apaixonados, um fenômeno nostálgico para os saudosos de Los Hermanos que se identificavam, sobretudo, com a verve de Camelo e um pulo acertado para o cenário alternativo da música brasileira.



Há quem ame e há quem odeie a lógica aplicada pelo hermano em seus projetos. Mas há poucos que, quando sobem em palco, sabem tão bem o que estão fazendo e estão tão certos de sua convicção que o público pode se sentir da mesma forma. Essa energia se estende à toda Banda do Mar, de Mallu a Fred, que compõe essa novela nas baquetas como coadjuvante, ao restante dos músicos - todos devidamente uniformizados, diga-se se passagem.

Ainda falta alguma coisa. Talvez um tempo de assimilação, um repertório mais completo, uma banda mais convicta que ultrapasse essa relação. Mas é tão bom observar que os pequenos defeitos passam a ser meros detalhes. Não dava para esperar algo diferente: a Banda do Mar é um casamento bem-sucedido.

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