70 anos de Chico no Trip Transformadores


Texto: Amauri Terto
Fotos: Fernando Galassi

Petiscos e cervejas sobre cangas, público majoritariamente jovem, calor acima de 30ºC e pouco vento. Esse era o cenário da área externa do Auditório Ibirapuera minutos antes da abertura do show “Música & Transformação”, promovido pela revista Trip. Anunciado como um aquecimento para o prêmio “Trip Transformadores 2014”, o espetáculo comemoraria 70 anos de Chico Buarque, completos no último mês de junho. Para realizar a homenagem foi escalado um time diversificado de intérpretes - que combinava novos nomes em ascensão como O Terno, Blubell e Aláfia; com figuras celebradas pelo público, incluindo Criolo e Elza Soares.

Fernando Galassi/BACKBEAT


A uma semana do segundo turno das eleições presidenciais, música, homenagem e política pareciam se misturar de forma indiscreta, porém amigável, na grama do parque. Duas bandeiras com a mensagem “Dilma 13” erguidas no meio do público chamavam a atenção. Assim como militantes pró-reeleição da presidente que distribuíam adesivos a todos que estavam sentados ou em pé. A combinação de fatores ficou ainda mais clara quando uma salva de palmas cresceu no meio do público. No palco ainda não havia ninguém. Alguns segundos de confusão e a cena foi esclarecida: era o ex-senador do PT, Eduardo Suplicy, derrotado no primeiro turno das eleições, que chegava ao evento ovacionado pelo público. Entre aplausos, assobios e pedidos de “selfie”, ele se acomodou na área destinada à terceira idade e gestantes bem a frente do palco.

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Assim que as movimentações no palco começaram, o tempo mudou. Vento forte e nuvens escuras se acumularam na chegada do duo Brothers Of Brazil. O início do espetáculo anunciava o que público iria conferir em todas as apresentações: dobradinhas bem executadas - o que não quer dizer inspiradas - de grandes clássicos de Chico Buarque. Os filhos de Eduardo Suplicy trouxeram ao palco versões roqueiras de “Geni e o Zepelim” e “Olhos nos Olhos”. Na segunda música, Supla deixou a bateria para assumir o microfone, numa interpretação extrovertida e, como de costume, cheia de maneirismos.

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Sob garoa e vento, O Terno deu sequência ao espetáculo com “A Banda” e Brejo da Cruz”. O power trio manteve a atmosfera marcada por guitarras nas releituras das canções. O público começava a entender que a roupagem de cada faixa seria uma surpresa. A ausência de interação com o público também marcaria a noite. Ao final de cada apresentação um “Viva, Chico!” parecia a despedida ideial dos artistas. O telão acima do palco com imagens da vida de Chico Buarque fora dos palcos antecedeu a apresentação de Blubell. Coube a cantora paulista emprestar um pouco de sua interpretação fortemente ligada ao jazz à canção “Anos Dourados”. “Samba do Grande Amor” ganhou uma versão reggae e foi a primeira em que se ouviu um coro entusiasmado da plateia.

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Chegou a vez de Saulo Duarte e a Unidade tomar o centro do palco para mostrar versões dançantes - e com pitadas do norte e nordeste do país - de “Deus lhe Pague” e “Jorge Maravilha”. O clima de festa continuou com a canção “Cotidiano”, em ritmo de cumbia, interpretada por Felipe Cordeiro. O paraense também interpretou a festiva “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”. Sem trégua da garoa e do vento, Nina Becker mostrou ao público versões intimistas de “Deixa a Menina” e “Retrato em Preto e Branco”. A cantora carioca foi sucedida pela big banda Aláfia. Trajando propositalmente roupas de cor vermelha, seus integrantes interpretaram “Contrução” e “Sabiá”. As versões repletas de elementos afro foram seguidas por um discurso de Jairo Pereira, um dos vocalistas da banda, pedindo respeito e valorização à cultura africana presente na história do Brasil.

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Quem esperava algum discurso de tom político de Criolo, o penúltimo artista a se apresentar na noite, se decepcionou. Sem trocar palavras com o público, o cantor interpretou “Com Açúcar e Com Afeto” e “João e Maria” – está segunda canção arrancou coro entuaisamos da plateia ensopada da chuva. Coube a Elza Soares, um das divas da música popular brasileira, protagonizar o grande momento da noite. Sob aplausos entusiasmados, a cantora mostrou toda a sua potência vocal em uma versão a capella de “O Meu Guri”. Pediu a interação da plateia e seguiu com elegios ao homenageado. “Chico é uma pessoa tão iluminadas que nos trouxe Chuva. São Paulo precisa de chuva”, declarou sob aplausos. O samba tomou conta do palco com uma versão de “Dura na Queda”, já gravada em disco pela cantora.

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Entusiasmada com cerca de 40 mil pessoas que cantavam juntas grandes canções do compositor carioca, Elza Soares ganhou a companhia de todos os artistas no palco para o número final. “Partido Alto”, canção do álbum “Quando o Carnaval Chegar” (trilha sonora do filme de mesmo nome), de 1972, foi a escolhida para encerrar a noite. O tom vermelho predominava no palco. Por coincidência ou não, Chico Buarque declarou na última semana apoio à reeleição de Dilma Rousseff. Muitos fatores se combinavam frente ao público, que completou em alto e bom som o refrão: “Deus dará, Deus dará”: Dilma!


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