Esta Música Vai Mudar Sua Vida #2


Na segunda edição da coluna, nossos convidados mostram o choque de realidade presente em suas escolhidas

de BACKBEAT


Na segunda edição de Esta Música Vai Mudar Sua Vida, nossos convidados descreveram, cada um à sua maneira, as diversas formas de como uma música pode conversar conosco e, bem, realmente mudar a nossa vida.

Com canções de Arcade Fire e The Mars Volta, Ana Clara Matta (editora do Rock 'n' Beats e do Ovo de Fantasma) e Marlon Rosa (colaborador de O Anagrama e Beco 203) buscam os sentimentos implícitos em suas escolhidas e transparecem sua essência nos trazendo uma certeza em comum: é tudo sobre a vida real.


Wake Up, Arcade Fire

por Ana Clara Matta (Rock 'n' Beats e Ovo de Fantasma)



Wake Up não é só mais uma das canções amplas e multi-instrumentais do Arcade Fire, é uma canção que eleva tanto a fórmula da banda que ao encerrar seus shows, transforma todo um festival em uma experiência quase espiritual. Talvez é o efeito do coro quase religioso clássico, e a bateria quase tribal, alojados no coração do álbum Funeral.

Wake Up pode sim mudar sua vida. Se você trabalha com qualquer um dos ramos e bifurcações dos caminhos das artes, ela te mostra que não existe limite na passionalidade, na intensidade e no calor que pode ser contido em uma obra.



Para os nostálgicos, é ainda mais forte. As palavras declaram: o tempo irá apenas destruir suas esperanças. O mundo esmaga quem você era na pureza da infância. E você só pode se conformar. Ajustar. Como é dito na frase mais forte de toda a canção.

Parece uma música bem pessimista para algo que deveria "mudar vidas", não? Não. A intensidade de Wake Up te incentiva a ser intenso. E sua variação de ritmo e de energia ensinam que a tristeza convive a cada dia e a cada instante com a felicidade. Além disso... quem não aprecia a percepção de que alguém entende exatamente aquilo tudo que crescer significa para você e transpõe isso na forma de música?



The Widow, The Mars Volta

por Marlon Rosa (O AnagramaBeco 203)



Sortudos aqueles que têm, em seu primeiro amor, o amor para toda a vida, a definição limpa e direta do termo "para sempre". Felizes daqueles que fazem desse sonho uma realidade fisíca, palpável e passível de admiração, dessas de levantar o troféu, vestir a camisa e gritar atingindo quem quer que esteja no raio de destruição.

Aqui no mundo real, as coisas são bem diferentes, deixando de lado esse grupo de seres que se autodenominam As Exceções; aqui a rapadura é doce, mas não é mole não. Aqui, a gente sabe que naquele angú tem caroço e que onde há fumaça, também há fogo. Aqui, amores verdadeiros e intensos não são para sempre - eles passam como tanques de guerra em nossas ruas e calçadas, deixando em seu caminho feridas que nunca cicatrizarão e "pulmões negros e abstinentes feitos de cravos estilhaçados que se comunicam através do chiado de tosses".



Se existisse uma música que mudaria a vida de todas as pessoas que já tiveram um amor que ainda susurra no seu ouvido (ou seja, 99,99% dos seres humanos desse planeta), daqueles que você se pega pensando todas as noites antes de dormir ou naqueles dias em que você pede um frappuccino de morango do Starbucks, esta música seria The Widow. É o tipo de música que abre nossos olhos, mostra o quão viciados e o quão mal esse tipo de amor nos faz. É como se fosse um cigarro: ao mesmo tempo em que te alimenta, acalma sua raiva, e não te deixa dormir só, ataca silenciosamente o seu pulmão, te dá câncer. É o tipo de música que te coloca em um cenário onde montanhas e prédios são feridas abertas, e você, vestido de protagonista, não faz nada além de ficar inerte, congelado em meio a toda essa loucura em forma de vício. Com execção d'As Exceções, nós somos todos viúvos e viúvas de um grande amor que já foi, morreu, sumiu, mas que volta para conversar conosco todas as noites, e que, quando pedimos para que nos leve na garupa para este tal lugar no qual ele agora reside, nos deixa lá, novamente congelados e sem resposta.




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