Entrevista: Atalhos fala sobre seu novo álbum, “Onde A Gente Morre”



A banda Atalhos nasceu em 2008, formada por Marcelo Sanches, Gabriel Soares, Conrado Passarelli e Alexandre Molinari e, apesar de relativamente nova, já há algum tempo busca seu espaço na cena independente brasileira.

Em 2008, lançam o EP Mocinho e Bandido. Em 2012, o primeiro álbum, Em Busca do Tempo Perdido. A banda também saiu em uma turnê que passou pela Argentina e Uruguai, além de vários outros lugares de São Paulo e do restante do Brasil.

Agora, a Atalhos se prepara para o lançamento de seu segundo álbum, que leva o nome Onde A Gente Morre, e ganha edições em vinil duplo e digital (disponível para download a partir do dia 9 de dezembro).

Batemos um papo com o Gabriel, vocalista da banda, que falou um pouco sobre o processo de gravação do novo álbum.

“Onde A Gente Morre” foi mixado por Mark Howard, produtor que já trabalhou com nomes como Bob Dylan, Joni Mitchell, U2, R.E.M. e Tom Waits. Como foi a experiência de trabalhar com ele?

Foi uma coisa curiosa, porque a gente não pensava em convidar um produtor tão grande pra mixar o nosso disco, estávamos mais preocupados em encontrar alguém que não tornasse o álbum uma coisa completamente diferente do que a gente queria. Entrei em contato com alguns produtores e ele me respondeu, interessado em mixar um single. Acabamos conversando bastante depois disso também, ele ouviu as músicas do disco e quis trabalhar com a gente. O processo todo durou mais ou menos três meses, porque na época ele estava terminando de gravar com a Joni Mitchell. Ele chegou a mandar algumas provas que não eram bem o que a gente queria e tivemos que falar com ele. Foi meio estranho falar pra um cara que já mixou Neil Young que não era bem daquele jeito que a gente queria. Mas logo ele entendeu bem a nossa intenção e o trabalho ficou ótimo.


O Lucky Paul, que é baterista da Feist, faz uma participação em Ínsula. Como aconteceu essa colaboração?
Conheci o Lucky Paul em Birigui, há uns dois anos. Ele estava tocando na cidade com o projeto paralelo dele, na mesma época em que estava em turnê com a Feist aqui no Brasil. Acabamos conversando e eu falei pra ele que tinha uma banda, que ele ficou bem interessado em conhecer. Quando estávamos gravando, achei que Ínsula seria ótima. Ele também curtiu e uns dias depois nos enviou as tracks da percussão e de um synth bem ruidoso que ele gravou e incluímos na musica.

E quais foram as maiores influências para gravar o disco?
Uma das principais foi o Wilco, principalmente a estrutura e o conceito que eles usaram nas gravações de Yankee Hotel Foxtrot. Antes de entrar em estúdio, assistimos ao filme (I Am Trying To Break Your Heart) algumas vezes. Quando eu estava compondo as músicas, também ouvi muito Neil Young, Elliot Smith e The Band. Já durante a mixagem, ouvi muito Midlake, porque na época eu estava viajando pela Patagônia de carro e todos os álbuns deles estavam no iPod que eu escutava o dia todo.

Vocês já falaram que uma das razões que pela qual escolheram o estúdio foi por ele ter equipamentos antigos. Como isso afetou a sonoridade do álbum?

A verdade é que a gente ficou bastante decepcionado com o primeiro disco, por não termos controle na produção e pela própria inexperiência da banda. Para isso não se repetir, listamos tudo o que queríamos evitar nesse novo trabalho, como a bateria cheia de reverb, as guitarras gravadas sempre em dobra, músicas muito limpas. Isso fez com que a gente demorasse bastante pra encontrar o novo estúdio antes de comecar a gravar, mas por fim achamos um lugar bem bacana na Vila Mariana, com equipamentos antigos e um clima legal pra experimentar.  Isso ajudou bastante pra que a gente conseguisse criar o estranhamento que queríamos. Lembro que no filme do Wilco eles contavam que, depois de compor as músicas, começava a parte mais difícil, que era destruí-las. Fizemos um processo parecido. Se uma música tinha potencial para ser um single pop, atrasávamos a entrada do vocal, se a sonoridade era muito limpa, colocávamos alguns ruídos e mudávamos a estrutura.
As referências literárias aparecem bastante nas músicas da Atalhos. Quais foram as principais pra esse disco?
Desde os 20 anos eu comecei a ler sem parar, virou um vício, acabei abrindo até uma livraria no interior por conta disso. Neste disco, as referências começam na capa, que é uma foto que vi no Museo Malba, em Buenos Aires. É de uma artista chamada Liliane Porter. Quase todas as faixas têm uma influência literária direta. A mais explícita é do Thomas Bernhard, que é um autor que comecei a ler há dois anos e foi a melhor coisa que eu já descobri.
E bandas novas? O que vocês têm ouvido?
Temos ouvido bastante Apanhador Só. O reconhecimento que eles estão recebendo influenciou bastante a gente a fazer tudo de forma independente. Primos Distantes também é uma banda bem legal, com um som bem humorado e diferente. Quarto Negro, o Terno e Vanguart também são ótimas.
Pra finalizar, como você descreveria o álbum?
Bom, apesar de ter sido mixado por um produtor internacional e ter a participação de um cara como o Lucky Paul, a ideia não é que o disco seja pretensioso. Na essência, é completamente sem concessões, muito autoral e ciente das limitações. Por ser assim, nem todo mundo deve gostar, mas quem gostar, acho que pode gostar muito.

Confira abaixo a tracklist e capa de Onde A Gente Morre.




01 - Sozinho Contra Todos  
02 - Só o Amor no Fim      
03 - José Fiquei sem Saída                                     
04 - Cowboy da Estrada de Terra                                                 
05 - Thomas Bernhard                                                        
06 - El Túnel                                                          
07 - Coroados 3666 Km                                                    
08 - Última Página                                                   
09 - Onde a Gente Morre                                                    
10 - Ínsula  [feat. Lucky Paul]                                                        
11 – Agorafobia                                                      
12 - Metáfora ao Contrário

Para conhecer a banda:

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