Da camiseta à explosão: Royal Blood

Andrew Whitton- Divulgação

Conheci o Royal Blood por meio de um texto do Jotabê Medeiros, crítico e repórter do jornal O Estado de São Paulo, publicado em setembro deste ano com o título Royal Blood, uma nova sensação do Reino Unido. São dois músicos: Mike Kerr (vocal e baixo) e Ben Thatcher (bateria), e uma sonoridade que não deixa nada a desejar aos grupos com mais instrumentos. É impressionante ouvir a expressividade do baixo de Kerr, é como se o instrumento gritasse "nós não precisamos de uma guitarra". Mas outros detalhes, além do talento e da forma como eles preenchem um palco vazio somente em dois, chamam muito a minha atenção quando falamos deste power duo.

O Royal Blood foi formado em Brighton, no Reino Unido, em 2013, e traz influências de rock de garagem misturadas com o grunge, hard core, e até do blues. Acho até engraçado como a mídia tenta compará-los ao White Stripes e Black Keys, que são duas duplas do "novo rock" (oras, o White Stripes, mesmo encerrado, surgiu no fim dos anos 90, são novos  sim). Além de ser composto por baixo e bateria, diferente da composição guitarra e bateria das duas duplas citadas, o Royal Blood "explodiu" com menos de um ano de atividade. Eles lançaram o primeiro single, "Out Of The Black" em novembro de 2013, e no mês seguinte já foram indicados à premiação da BBC, um dos maiores veículos de comunicação da "Terra da Rainha".

O primeiro e único disco completo do duo, batizado "Royal Blood", foi lançado em agosto deste ano, já com gravadora, a Warner Bros Records. Logo,  o trabalho conseguiu indicação ao prêmio Mercury de melhor disco do ano e alcançou a posição de disco debute rock britânico mais bem vendido nos últimos três anos! Também ficou entre os "10 mais" na Suíça, Austrália e Nova Zelândia, e ganhou "estrelinhas de ouro" em diversas listas de críticos do mundo inteiro  (Inclusive conquistaram a 16ª posição da lista de 50 melhores da "Q" este mês). As músicas "carro-chefe" do disco são"Figure It Out", "Ten Tonne Skeleton", mas eu particularmente gosto muito de"Come On Over" (que lembra Muse logo nos primeiros segundos de execução) e "Out Of The Black", que já havia sido lançada em single, mas ganhou a posição de primeira faixa do disco.


Fica até difícil não concondar com Jotabê Medeiros quando ele define o Royal Blood como uma "explosão". Que banda hoje no mercado estoura pelo mundo assim tão rápido? Quem consegue contrato com gravadora para lançar seu primeiro disco? E quem já ganha indicação de melhor disco do ano um mês depois de ter lançado o primeiro trabalho? É um fenômeno! Por exemplo, o White Stripes, iniciado em 1997, lançou seu primeiro álbum dois anos depois, mas só conseguiu chamar atenção dos críticos em meados de 2001, com o disco "White Blood Cells", o terceiro da discografia. E o Black Keys, que começou no ano em que o White Stripes começava aparecer, mas só conseguiu um prestígiozinho por seu trabalho com o "Rubber Factory", de 2004, explodindo mesmo com o "Brothers", de 2010.

Mas existe um detalhe, um mísero detalhe, que faz sentindo a toda esta "explosão" do Royal Blood: uma camiseta. O baterista do Arctic Monkeys, Matt Helders, foi flagrado usando uma camiseta do power duo durante o Glastonbury do ano passado. O "flagra" caiu no gosto de todos os grandes veículos do Reino Unido, e a banda logo tornou-se conhecida pelo público. Eis meu questionamento: seria uma camiseta, uma mísera camiseta, responsável por mudar todo um destino de uma banda, ou esta seria uma mera coincidência? O fato é que o Arctic Monkeys tem milhares de fãs pelo mundo, sendo grande parte deles seguidores assíduos do grupo (daquele tipo "Se o AM fizer, também faço"). E não só eles, mas todos os grandes artistas da atualidade possuem fãs assim (Eu mesma sou uma delas quando falamos de Jack White...). Então, seria esta um processo cíclico? Seria uma "roda gigante", que começa com "meu artista favorito ouviu a banda x" - "a mídia fala da banda x" e "o público ouve a banda x" - até começar de novo com "a banda x ouve a banda y"... E quem estiver de fora deste circulo, que se exploda? Fica o questionamento: até que ponto somos manipulados?



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