Um cenário desconhecido para desbravar o conhecido


*fotos: Cassio Abreu

Uma estação ferroviária revitalizada em Santa Bárbara D'Oeste, por onde passavam os trilhos da extinta Companhia Paulista, serviu de palco no último sábado (10) para transportar seus passageiros para um festival cujo principal objetivo era celebrar a nova música brasileira. O Onde Pulsa a Nova Música, o primeiro evento de grande porte do Pulsa Nova Música, projeto (do qual estive na estreia) de Christian Camilo, levou o público para um cenário desconhecido com a intenção de desbravar o conhecido. 

A principal graça do festival é que ele foi de encontro à grande parte dos festivais realizados no país. Somos movidos a escolher ir a um ou outro festival pelo line-up - não que seja nossa culpa, mas dos preços exorbitantes - e acabamos nos esquecendo de toda a experiência de um festival de música. Onde Pulsa a Nova Música, assim como o projeto de Christian que já trouxe gente como Pélico e hidrocor à Campinas e, mais além ainda, como a festa mensal do Rock 'n' Beats que era realizada por ele, Junior Passini e Leandro Filippi no Bar do Zé, localizado no distrito de Barão Geraldo, foi um espaço para conhecer e rever gente, debater sobre música e, na maioria dos casos, não foi um festival para assistir necessariamente as suas bandas e músicas favoritas - e, sim, descobri-las aos poucos, seja acompanhando-as fervorosamente na frente de um palco ou tomando uma cerveja com os amigos (sem perrengues). Afinal, ali encontraram-se pessoas que vivem este cenário e pessoas que não sabiam da existência dele, uma proposta simples e eficiente de oferecer a música independente também ao chamado público mainstream. 


Logo de cara, a apresentação teve início com um debate entre Miranda, Lúcio Ribeiro e Pablo Miyazawa (editor-chefe da Rolling Stone), que contou com a mediação de Felipe Pomppeo. O debate atirou para todos os lados - e isso foi bom. Ouvimos as histórias curiosas do produtor musical, entendemos o jornalismo tradicional de música, que resiste nas mãos da revista chefiada por Pablo e conhecemos como funciona o disputado mundo traduzido por Lúcio em seu Popload. Uma questão levantada por Lúcio no bate-papo, que dialoga muito com o nosso momento atual, vale ser destacada: o jornalista não é necessariamente um crítico e, sim, um curador. Em algumas das discussões mais recentes que estive, como no debate que participei a convite do Catraca Livre no último YouPix, também chegamos a este ponto: será que o blogueiro de música, por exemplo, não deveria agir como aquele amigo que tem o papel de lhe oferecer um encantamento sobre algo? Fica a questão. 

As atrações musicais - seis, no total - eram destoantes entre si. Outra coisa que também foi boa: havia opções de degustação para todos os gostos, no fim das contas. Entre os nomes mais conhecidos, teve espaço para Phill Veras, Nevilton e Soulstripper. As bandas da região ganharam sua vez com About a Soul (Americana) e Oito Mãos (Campinas), e ainda houve a apresentação dos paulistanos do Quinta Que Vem. Cada um ao seu ritmo, cada um ao seu tempo, nos oferecendo também um leque pelo qual foi possível observar a evolução de uma banda independente.



Essa tal evolução foi explícita na apresentação do Nevilton, última banda a se apresentar na noite. Já tive a oportunidade de conferir diversos shows do trio, nos quais sempre esteve evidente a empolgação dos membros em palco, mas que, muitas vezes, não eram empolgantes o suficiente para cativar o público desconhecido. Com um segundo álbum (Sacode!, 2013) na bagagem e a produção de Miranda, o trio paranaense parece ainda mais revigorado, mostrando ter ainda mais competência para conquistar novos fãs. O sempre simpático frontman "com nome de remédio", como ele mesmo define, é a peça-chave para mostrar todo o peso desta nova fase, sobretudo na guitarra, cada vez mais poderosa.

Phill Veras é um outro destaque que merece ser apontado. O maranhense, que possui apenas um EP em sua bagagem e se prepara para lançar seu primeiro álbum, tem uma presença em palco de dar inveja a muitos outros músicos iniciantes, além de uma banda que lhe oferece um suporte bastante interessante ao vivo - é um cara que, no entanto, ainda está incompleto, mas vale ficar de olho nos seus próximos passos, que soam promissores. A proposta da Soulstripper, o terceiro nome conhecido na noite, já não me agrada, mas a apresentação também foi bastante aclamada por parte dos presentes.

About a Soul, Oito Mãos (embora esta já seja uma velha conhecida minha) e Quinta Que Vem subiram em palco para o que poderia ser um teste de fogo, mas, por fim, acabou soando natural, como mandava a proposta do ambiente. Particularmente, a banda de Americana me agradou muito, enquanto os paulistanos da Quinta Que Vem já não me causaram o mesmo efeito - mas creio que também é questão de tempo para a banda se impor em frente a um público. Por enquanto, pareciam apenas estar se divertindo. E essa diversão, no fim das contas, também cabia muito bem ao festival. E a Oito Mãos é daquelas bandas que você tem que parar para ouvir um dia desses.



Acredito que tudo isso o que presenciamos no último final de semana vai ser ainda melhor daqui para a frente. Como um primeiro evento, deu para observar que existem pessoas, bandas e patrocinadores interessados em investir nesses projetos que surgem de boas cabeças sonhadoras. Que o Christian e os demais agitadores culturais nunca deixem de sonhar e fazer acontecer e que cada vez mais gente compreenda este sentido tão bom de pulsar a nova música.

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