A festa do Green Day em ¡Dos!


Segundo álbum da trilogia do Green Day coloca em teste a iniciativa inusitada do trio

por Izadora Pimenta




Na última apresentação do Green Day em São Paulo, em 2010, o show teve três horas e dez minutos de duração. É um tempo considerável para saciar os fãs que esperavam há anos por uma vinda do trio ao Brasil. As tais três horas e dez foram recheadas com firulas decorativas como Billie Joe Armstrong atirando camisetas para a plateia ou, então, dando selinho no rapaz que subiu ao palco para tocar Longview (de Dookie, 1994). Outras músicas fora do repertório dos americanos, como Hey Jude e Sweet Child O' Mine, também serviram para preencher tudo aquilo. Apesar do teste de paciência, deu para perceber que o Green Day é mesmo essa banda que vem gostando de alguns certos exageros. Tipo o jornalista que chora ao ver o editor cortando sua matéria. E esta é exatamente a ideia da trilogia de 36 músicas da qual, agora, pudemos conhecer o segundo álbum, ¡Dos!:  não deixe nada de fora e conte com a sorte da aprovação.

Dá para dividir o Green Day em duas bandas. Esta divisão é claramente marcada por American Idiot, a opera rock lançada em 2004 que lhe rendeu uma certa explosão comercial. Em American Idiot, o Green Day trouxe algo incomparável com seus trabalhos anteriores, mostrando que conseguia se adaptar a uma nova realidade musical. Mas parece que, desde então, encontrou também seu ponto confortável. Depois do decepcionante 21th Century Breakdown, a trilogia que começou com ¡Uno! e terminará com ¡Tré! é uma prova de fogo para provar que eles conseguem mudar o disco da vitrola. E fazer um disco triplo, na verdade, não é nada inédito: All Things Must Pass, de George Harrison, considerado um dos grandes álbuns da história, foi o primeiro. Em ¡Dos! já temos algumas impressões do que a iniciativa poderá render para o trio.




¡Dos!  foi definido pelo próprio Armstrong em entrevista a Rolling Stone como "um rock mais garageiro, meio anos 60" - um álbum para se sentir dentro de uma festa. A influência é evidente ao longo das faixas, mas nós também podemos encontrar elementos do grunge (Wow! That's Loud) e do power pop (Fuck Time). Há também um flerte com o indie rock. Lady Cobra, por exemplo, poderia muito bem ser cantada por Alex Turner à frente do Arctic Monkeys, assim como a livremente-inspirada-em-The-Clash Kill The Dj, de ¡Uno!, que é daquelas que nós julgamos que fica bem em uma pista de dança.

Na trilogia, as letras mais políticas dão espaço a composições sobre temas mais cotidianos. Tudo porque, com ela, a banda vem com a intenção de juntar bateria, baixo, duas guitarras e vocais de modo com que o recado fosse simples, direto ao ponto, em um processo marcado por escrever no papel tudo o que vinha à mente. Tal processo é prejudicial e perceptível em faixas como Lazy Bones, um frio ode à canseira que, não fosse a sua ótima melodia, poderia ser facilmente descartado.

Mas há também um problema que o Green Day vem enfrentando: a falta de criatividade nos riffs e construções. Stray Heart, uma das mais atrativas de ¡Dos!, começa em um agradável rockabilly e acaba caindo em uma estrutura musical parecida com também ótima Letterbomb, de American Idiot. A qualquer momento é possível imaginar que o refrão irá explodir em "It's not over 'till you're underground...". Problema que já havia enfrentado Nuclear Family, de ¡Uno!, que lembra a faixa-título do álbum de 2004.


Stray Heart:



Letterbomb:




No entanto, o Green Day também abre espaço para surpresas ao nos apresentar a inusitada Nightlife. Um hip hop com um leve toque punk que conta com a participação de Lady Cobra, vocalista de uma banda da Califórnia que ganhou a atenção de Billie Joe, chamada Mystic Knights Of The Cobra. A moça ainda serviu de inspiração para a tal-faixa-que-deveria-ser-de-Alex-Turner, e todo o seu conceito parece ser um objeto de desejo de resgate da juventude da banda, que não costuma trabalhar com colaborações.

Amy, a homenagem a Amy Winehouse, foge do lugar comum de baladas anteriores da banda como Time Of Your Life, Boulevard Of Broken Dreams, Wake Me Up When September Ends e a mais recente 21 Guns. Tocada apenas na guitarra, ganha uma característica amadora ao encerrar o álbum, mas esta acaba sendo uma saida bastante charmosa da banda, fechando um ciclo, já que See You Tonight se inicia da mesma maneira - elas são as músicas de entrar e sair na festa que o Green Day promete.

Resta saber o que ¡Tré! nos reserva para tomar conclusões decisivas sobre a corajosa aposta do Green Day - já é prometido que ele vem em uma pegada mais "épica", mais "reflexiva". E que Billie Joe Armstrong resolva seus problemas para que a banda possa voltar a fazer turnês e shows de cinco horas, provavelmente - para delírio dos fãs mais corajosos, que devem estar sempre prontos para aprovar de pé.

Tracklist:

01 – See You Tonight
02 – Fuck Time
03 – Stop When The Red Lights Flash
04 – Lazy Bones
05 – Wild One
06 – Makeout Party
07 – Stray Heart
08 – Ashley
09 – Baby Eyes
10 – Lady Cobra
11 – Nightlife
12 – Wow! That’s Loud
13 – Amy

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