Mulher bonita é aquela que luta




"Pacificamente violenta/Como aranha caranguejeira na teia/Eu canto pra que eu nunca esqueça"

Não teve flores, não teve bombom e muito menos o famigerado parabéns - parabéns por quê? No último domingo, 8 de março, a cantora Ellen Oléria convidou a plateia do SESC Campinas para fazer um minuto de silêncio - "por todas aquelas que são diariamente violentadas".

Ellen utilizou seu show para lembrar da consciência com a voz de quem, 365 dias por ano, quer ser tratada com o mesmo respeito que a data comercialmente exige. Há um casamento cheio de simbiose entre a música e o discurso que embala o público e transforma a sua apresentação em um grande momento.

No seu ativismo consistente e estampado, Ellen se faz inspiradora sem dificuldade. E não é somente nas palavras escolhidas a dedo para tocar nas feridas ou na desenvoltura com a qual ela reproduz o seu discurso: seu talento transparece poder e autocontrole entre tantos estereótipos difíceis de serem lidados - mulher, negra, lésbica, fora dos tais "padrões". 

Superior a tudo isso, ela voa e desliza em meio às notas próprias e de outros representando um poder único. "Sororidade" - é a palavra da qual ela nos lembra da existência em certo ponto. Como uma porta-voz, ela se imprime por todas as outras, seja lá quais forem as suas particularidades.



Este ativismo de Ellen não é figura fácil de ser trazida sem modismos ou exacerbações na nova música brasileira. No entanto, não é difícil observar a sua verdade. Muito superior a boa parte dos vencedores de reality shows brasileiros - ela venceu a primeira edição do The Voice Brasil - jamais absorveu a fama repetina para fazer uso em palco. Antes do reality, a carreira já era extensa: o programa global foi apenas vitrine para sua própria luta.

De talento igualmente indiscutível, ela passeia entre poesias, diversas modulações de voz e se apossa naturalmente de seus instrumentos de cordas. Não demora muito para que os desavisados caiam na graça. Durante quase toda a sua apresentação, foi saudada por homens, mulheres e crianças. Mesmo que, para alguns, os conceitos impressos fossem bastante novos, o recado, ao menos, foi dado e recebido.

Ela pode até aparecer na tela da sua TV, mas Ellen encontra maior espaço mesmo para mostrar a que veio naquele espaço que lhe pertence - seu palco, seus músicos, seu público. Ela bem lembra que é tempo de canções de amor. 

Mas o amor não é apenas uma figura romântica: é uma figura que universaliza todas as coisas.

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