Eu queria ser Cássia Eller


Cássia Eller era puro contraste. De moicano, calça larga e regata, cantava sobre o amor, saudade, paixão. Evidentemente, também não deixava de lado as raízes do rock, com muita gritaria e quebra de guitarras. Paradoxalmente, bebeu da fonte da música brasileira mais improvável, como Mário Assumpção, Mário Manga e Arrigo Barnabé. No primeiro disco intitulado “Cássia Eller” (1990) já dá para sentir a voz rouca, envolvente e que escancarava a personalidade vocal que a levou ao sucesso.
Em 1992, estimulada pelo relativo sucesso do primeiro disco, lançou “O Marginal”, com composições da vanguarda paulista e duas músicas de Jimi Hendrix. Ela investiu e acertou na pegada blues e rock. Nesse disco, inclusive, participou o baixista Otávio Fialho, com o qual teve um breve relacionamento que gerou Francisco Ribeiro Eller. Otávio morreu pouco antes do nascimento de Chicão, criado por Cássia e Maria Eugênia, sua companheira.

A maternidade também influenciou seu trabalho musical. O terceiro disco de 1994 foi o responsável pelo estouro de Cássia como celebridade, já que trazia a faixa “Malandragem” composta por Cazuza. Anos depois ela gravou outros sucessos, principalmente em parceria com Nando Reis (quem não se lembra de “O Segundo Sol” e “All Star”?). 

Cássia era paradoxo. Ao mesmo tempo em que assumia abertamente sua homossexualidade, seu jeito agressivo e totalmente sem amarras no palco, também mostrava que era terna como mãe e esposa. Mas a polêmica persistiu até mesmo no fim precoce de sua vida.

Eller morreu na noite do dia 29 de dezembro de 2001 no Rio de Janeiro. Ela teve três paradas cardíacas, e demorou para que o laudo médico oficial fosse divulgado, alimentando as especulações de que a causa da morte fosse overdose de drogas. Médicos legistas descartaram a hipótese e afirmaram que a cantora tinha uma má formação no coração não diagnosticada em vida. Mas até hoje muita gente realmente acredita que Cássia morreu pelo excesso de consumo de entorpecentes; a própria declarou em entrevistas que foi viciada em cocaína durante muito tempo, mas em 1998 disse ter largado o vício e que seguia “limpinha”.

Cássia completaria hoje 52 anos de idade. E assim como cantou em “Eu queria ser a Cássia Eller”, poderia ter sido muita coisa, mas decidiu ser ela mesma. Ainda bem.

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