Resenha: opiniões diferentes sobre "Sonic Highways", o novo disco do Foo Fighters


Sonic Highways, oitavo disco do Foo Fighters, tem uma proposta inovadora: cada uma das oito faixas foram gravadas em cidades diferentes dos Estados Unidos, com a participação de artistas que representam o local, em estúdios historicamente importantes, e com Dave Grohl terminando as músicas em cima da hora, “pegando” a inspiração de cada lugar. O resultado mostrado em pouco mais de 40 minutos dividiu a opinião do BACKBEAT: há quem tenha gostado do resultado, e há quem ache que a ideia original se perdeu no processo de produção. Sendo assim, vemos duas formas de encarar o novo trabalho de Dave e companhia:

01 – O conceito era legal, mas o produto não chegou ao resultado desejado.
02 – O conceito era legal e o "DNA" Foo Fighters falou mais alto que o “experimental”.

Abaixo, os defensores de cada ponto dão seus argumentos e notas para o álbum. No final, queremos saber com quem você concorda.



01 - Vinícius Cunha

Dave Grohl é o Henry Ford da música mundial e Sonic Highways, oitavo disco de estúdio do Foo Fighters, confirma esse título. Bem como o empreendedor americano, pai do Fordismo, que introduziu a linha de montagem automatizada na indústria, o rockstar serializou sua música e, em oito faixas que homenageiam as chamadas “capitais da música” nos Estados Unidos mostram a eficiência em expandir o consumo em massa com pouca ou nenhuma inovação desde There Is Nothing Left To Lose (1999) – praticamente um piloto automático.

Sonic Highways tinha todas as credenciais para tomar posto destacado na discografia do Foo Fighters, mas o modus operandi que a banda definiu se mostrou falho. Com gravações em estúdios locais e com tempo limitado, o resultado é eclético e em momento algum a banda deixa de lado o “DNA Foo Fighters”, que fora elevado a máxima potência no completo Wasting Light, de 2011.

A imersão que a banda faz na história musical de cada uma das cidades na série exibida no canal HBO não é encontrada na música de Dave e seus asseclas. São raros os momentos de entrega à cultura local, como em Congregation. O líder oferece voz suave e cheia de alma entrelaçada à guitarra de Zac Brown antes de soltar seu famoso grito primal em honesta homenagem a Nashville e sua cena country.

Sonic Highways, sobretudo, exigia um letrista à altura para a missão, pois pinçar conceitos históricos e os encaixar nas composições não é lá a praia do ex-baterista do Nirvana, mais acostumado a falar das coisas simples da vida e de onde saíram seus maiores sucessos (Best Of You, Everlong, My Hero, All My Life).

A força do álbum está em justamente ser um complemento a série, em ações que se encaixam e culminam  com arenas lotadas cantando a plenos pulmões o rock popular que o Foo Fighters encontrou pra si e faz tanto sucesso, mas que aos poucos se autocorrói pelas highways americanas

Melhor Música: Congregation
Pior Música: What Did I Do? / God As My Witness
Nota: 5,5

02 - Soraia Alves

Não posso fazer você concordar com a segunda opção, mas posso mostrar o porquê de ela ser a minha escolha. E é simples: cada faixa do novo disco do Foo Fighters segue basicamente as mesmas definições de todas as músicas com as quais a banda já fez sucesso antes. Temos os hits instantâneos como Something from Nothing, as músicas mais urgentes como The Feast and the Famine, as baladinhas no estilo Subterranean... Repare: Something from Nothing está para The Pretender (ou These Days ou Walk). The Feast and the Famine está para All My Life, e por aí vai.

Este disco não foge à sequência de trabalhos que a banda apresentou até agora. Pelo contrário, a tal inspiração vinda de cada lugar poderia ser muito mais forte, é verdade. E aí, sim, a crítica pode se tornar válida: se a intenção era beber de diferentes fontes e passear pelas influências do Rock estadunidense, a coisa não engrenou muito bem. Com exceção de Congregation, Outside e In the Clear, sonoramente, não dá pra falar que tal faixa tem isso ou aquilo porque representa tal cidade/influência musical. Se teve algum lugar no qual a banda bebeu mesmo foi em Echos, Silence, Patience & Grace, isso sim. A parte What Did I Do da quarta faixa poderia muito bem estar em Echos, por exemplo. As participações especiais em cada música também poderiam ser “mais visíveis” (Gary Clark Jr. deveria ter sido melhor aproveitado e Joan Jett está em I am a River, só pra avisar!).

Mas não gostar de Sonic Highways é, na verdade, não gostar do trabalho do Foo Fighters em si. Porque não há muita diferença entre este e os outros álbuns, capiche? Dave Grohl nunca foi um letrista memorável. Seus “hinos” sempre foram dos mais simplistas e carregados de uma carga até mesmo apelativa – vide My Hero ou The Best of You. O Foo Fighters sempre foi aquela banda de Rock que agrada “coxinhas e não-coxinhas”. E eles nunca se mostraram preocupados com isso ou a fim de mudar. É uma banda de arena, de lotar estádios, fechar festivais... Dave sempre vai fazer o público repetir “Yeah! Yeaaaaaah!!” ao seu comando, além de fazer inúmeras firulas que deixam os fãs felizes e os críticos de saco cheio. E tudo isso é válido, afinal, o Foo Fighters é isso há 20 anos!

Se a "fórmula gasta" é o que incomoda, ninguém estaria ansioso pelo novo disco do AC/DC, por exemplo. Há certas bandas que mantém sua identidade ao longo dos anos, e esse parece ser o caso do FF. Ainda assim, vale termos novas faixas como Congregation e Outside para apreciar. Aliás, elas já podem figurar entre as melhores músicas deles. Este é mais um disco do Foo Fighters totalmente com cara de Foo Fighters. Tá tudo aí: os riffs familiares, os gritos do Dave Grohl, as faixas mais longas sendo trabalhadas com mudança de arranjos no meio, tudo geralmente no esquema “cresce, explode, mantém, explode de novo, mantém”, as faixas épicas sem realmente ter nada de épico, só dizendo coisas como "I...I...I am a riveeeeeeer"...

Se você não curtiu Sonic Highways, meu amigo, repense. Talvez, na verdade, você não curta o Foo Fighters. Porque é a mesma banda fazendo o mesmo som de sempre. Para o bem e para o mal. A escolha de como encarar isso é totalmente sua. Eu escolho para o bem!

Melhor música: Congregation
Pior música: Subterranean
Nota: 7,0

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