Não tá fácil pra ninguém: a difícil trajetória de fazer sua banda dar certo! [Entrevista com a banda Seu Antonio]

Foto: Jessica Mobílio/ Reprodução Facebook


Tudo o que é autoral é inovador.” - Rodolfo Garcia, da banda Seu Antonio

Algumas vezes você não consegue explicar muito bem o porquê gosta de um determinado artista. Você simplesmente gosta, acha legal. No caso da Seu Antonio, a razão por gostar da banda também é simples: o talento bruto ali é grande. A banda surgiu em 2011, na cidade de São Manuel, interior de São Paulo. Depois de mudanças na formação original e uma pequena pausa, os 5 amigos resolveram investir mesmo no som que fazem, investimento esse que prioriza ideias e composições próprias ao invés de apenas a preocupação com uma produção rebuscada.

“Gostaríamos de tocar para quem estiver disposto a pelo menos nos ouvir. Não precisa gostar, não precisa odiar, se amar, vai ser interessante, mas tem que ser alguém que esteja disposto a ouvir, que esteja aberto às novas experiências sonoras. E tudo o que é autoral é inovador”, é o que diz o vocalista da Seu Antonio, Rodolfo Garcia. “Não temos um público alvo, só gostaríamos de tocar para pessoas que entendam o que a gente diz, e acho que essas pessoas existem em algum lugar”, completa.

É sobre o processo de lapidar esse talento e conseguir apresentá-lo para muita gente que eu conversei com o vocalista do grupo. O papo faz parte da nova coluna do BACKBEAT: Não tá fácil pra ninguém. A ideia do espaço é mostrar bandas que estejam começando, começando mesmo, na difícil tarefa de divulgação da sua música mundo a fora. Só imagina a trabalheira toda que uma banda tem para criar o seu próprio som e, muitas vezes, não conseguir mostrá-lo além dos limites do seu grupo de amigos. Essa galera merece atenção!

Foto: Jessica Mobílio/ Reprodução Facebook


Mas o que faz (ou não) uma banda dar certo? Para o Rodolfo, tudo é uma questão de conseguir estruturar bem o grupo, ter um foco definido e, também, contar com um pouco de sorte: “O difícil mesmo é começar. Primeiro você tem que reunir pessoas que gostam mais ou menos do mesmo estilo musical que você, depois você tem que ver se elas estão no mesmo nível de comprometimento que você, se todo mundo está tão a fim quanto você para fazer isso. Daí tem uma sequência de fatores que envolvem sorte, você estar cercado de pessoas que podem ajudar, encontrar um bom lugar para ensaiar, conversar, trocar uma ideia sobre o som. Mas o mais difícil mesmo é alinhar os seus ideais aos das pessoas que você quer que faça parte da sua banda”.

É claro que a questão de verba para bancar esse começo é algo a ser avaliado, mas não chega a ser um fator determinante. “Se você quiser mostrar o seu som em algum lugar da cidade, você só tem que ensaiar, investir em tempo. O dinheiro é só para um bom equipamento mesmo. Tem que ter o mínimo de infraestrutura para deixar o seu som maneiro”.

A Seu Antonio também faz uso de covers em seus shows, o que é muito comum a todas as bandas em início de carreira. Quem não se lembra que os cariocas da The Outs, por exemplo, começaram como cover de Oasis? E o motivo disso é simples: “No Brasil, a situação da música autoral é complicada. O público está mais condicionado a ouvir cover pelo resto da vida, do que aceitar com facilidade a música autoral de uma banda. Em casas de shows que não são tão alternativas, quase todas as bandas fazem cover porque é mais fácil do público assimilar”, diz Rodolfo, que ainda completa: ”Acho legal homenagear bandas que você gosta, mas sou contra o total cover. Você pode fazer muito mais, você pode criar, inventar... No cover não, você está colocando a voz em algo de alguém.”

E se agradar com suas músicas autorais já é difícil pra todo mundo, imagine pra quem não está no meio de grandes centros como São Paulo ou Rio de Janeiro. “No interior já é mais difícil porque não tem tantos lugares de caráter bem independente, como casas de shows. O Rock autoral não tem tanto espaço. Daí você escolhe os seus caminhos”. E esses caminhos podem incluir se apresentar praticamente de graça em muito lugares. “A casa quer ter uma banda e não quer pagar muito por isso. É uma coisa que você pode aceitar muito no começo.”


Mas, mesmo com todos os perrengues, ainda há esperança: “A cena independente não está saturada, está em falta na verdade. Está tudo muito escondido ainda. O independente só se torna mainstream, como o Nirvana, por exemplo, quando é uma coisa muito, muito inovadora. E fazer algo inovador em 2014 é bem difícil. As grandes gravadoras só vão investir se virem um mínimo poder comercial, e isso só se dá quando algo muito novo começa a chamar atenção. O negócio é reinventar sempre e não só reproduzir”. E uma coisa que quase todo artista usa hoje para conquistar seu espaço é a internet. Rodolfo concorda que as redes sociais são fundamentais para conseguir divulgar o seu trabalho e conquistar um público, mas fidelizar esse público só pela web pode não ser tão fácil. “A base para fazer fãs ainda são shows, mas a internet e as redes sociais são atalhos para chegarmos em pessoas de muito longe. Não é fácil fidelizar público pela internet, mas pelo menos para apresentar o seu trabalho é o ideal.”

A Seu Antonio prefere trabalhar como antigamente. A ideia da banda não é gravar um disco e sair fazendo divulgação em cima dele. Eles preferem trabalhar com singles avulsos até chegar o momento de uma gravação oficial. “Nosso plano é compor músicas e apresentá-las em doses homeopáticas. Já temos um acervo bem grande. Apresentamos nos shows, gravamos e deixamos na internet. No estilo antigo. Passo a passo. Faz uma música, trabalha nela. Tem muita banda que investe pra caramba e ainda assim faz um cd ruim. Isso não interessa pra gente. Primeiro é tocar, gravar um música, divulgar... e ir entrando no mercado aos poucos. Do que adianta gravar um disco com 10 músicas e parar nisso? O legal é construir bases sólidas, com um público que gosta do seu som e espera novidades de você.”

O caminho tijolo por tijolo pode parecer desprentensioso, mas a Seu Antonio tem seus sonhos, como tocar em um grande festival, por exemplo, ou provar que é possível viver de música apesar de todas as dificuldades. “Se você perguntar pra minha mãe, ela vai dizer que é impossível, mas eu quero acreditar que dá. Dá se você estiver disposto”, e eles estão!

Enquanto não rola tocar num Lollapalooza da vida, a Seu Antonio aceita convites para shows: “é só chamar”. Os contatos você encontra aqui, na página da banda no Facebook.

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