Bebê Gigante

Foto por Daniela Oliva


Quando se fala em "banda de meninas", muita gente olha torto. Eu tinha 16 anos e estava aprendendo a tocar guitarra quando aprendi que "banda de menina" não tinha nenhum significado pejorativo. Foi conversando com o Chuck Hipolitho, ex-guitarrista e ex-vocalista do Forgotten Boys, logo depois de um show deles, que ele falou, "se você for tocar, não tem essa de pensar que vai estragar a unha, de que vai machucar a mão". E em seguida ele me apresentou a Sahara Hotnights, uma das minhas bandas de meninas favoritas. Tirando o vocal, você não consegue descobrir o sexo das integrantes só ouvindo a banda. E foi assim que eu descobri que uma banda pode SIM ser formada por muitas mulheres e ser boa, ter atitude, ser tão rock'n'roll quanto qualquer banda de "macho". A música, meus caros, é assexuada.

Senti isso quando ouvi a BBGG pela primeira vez. A banda, recém-formada em São Paulo (em julho deste ano) é composta pela estudante de Design de Interiores e paulistana Débora Camiotto (vocal), pela cineasta alemã radicada no Brasil Joan Bedin (baixo), pela pesquisadora de conteúdo audiovisual norte-americana, também radicada no Brasil, Alessandra Labelle Duque (guitarra, e amiga dessa que vos escreve), e pelo produtor musical paulistano Julio Mairena (baterista), natural de Sampa e único macho do rolê.

O grupo ainda é novo, mas já tem experiência nessa trajetória e promete muito para o atual cenário de rock nacional. A Débora começou com a banda punk Hellas, depois passou para a Justine e pela Valentine, que ainda existe (todas só com mulheres na formação). Além disso, antes da BBGG, ela participou de um projeto eletrônico pesado, o Bipolar Mockers. A Joan tocava na Kissing Blood (com duas meninas e três meninos), e já fez covers de Patti Smith, Siouxsie e PJ Harvey. "Projeto onde eu conheci a Débora", lembra. Desde os 13, o Mairena toca guitarra, e teve naquela época a banda Zona. "Nome horrível, coisa de adolescente", conta arrependido. Ele ficou no power trio até os 25, depois montou a banda Apolonio, "projeto que ainda existe, mas tá 'quietinho', no 'pause. Fizemos um monte de coisas legais com o Apolonio desde 2008, tocamos em festivais e em tudo que é lugar em SP. É a primeira vez que eu toco bateria numa banda", destaca. E a Alessandra começou em Campinas tocando com a banda Scotch Tape (também com apenas um homem). Depois passou pela a After B4 (onde ela era a única mulher) e pela Diamonds (duas mulheres e dois homem). "Em todas essas bandas eu era vocalista e tocava um pouco de guitarra também. A BBGG é a primeira banda que entrei como guitarrista mesmo", completa.

A BBGG (pasmem, é a abreviação de "Bebê Gigante"), começou quando o Mairena passou a tocar bateria. "Até então ele 'só' cantava e tocava guitarra. Com o novo instrumento, surgiu a ideia de formar uma banda de rock de verdade, com mulheres", lembra Débora. Convida ali, sai aqui, entra lá, e eles chegaram a formação atual. "O mais foda é que ninguém se conhecia além de mim e da Débora, e tudo foi acontecendo naturalmente, assim como a união do grupo. A energia de todo mundo bateu muito, e a Bebê Gigante nasceu!", celebra Joan.

"Eu só consigo me dedicar a um instrumento se eu tenho uma banda, se eu tenho o compromisso de tocar. Eu não gosto muito de estudar sozinho,  gosto de tocar e compor, é bem mais divertido. Aí pensei que a melhor coisa pra mim seria aprender a tocar bateria seria tocando", conta Mairena. A opção por uma formação somente de meninas, sendo ele a única exceção, surgiu depois de muita pesquisa, MUITA pesquisa. "Eu só fico feliz que me acharam perdida nessa cidade grande! Acho que era pra ser", brinca Alessandra. O nome da banda também foi ideia do Mairena, que define como "animal!!!!". "Ele tem problema mental. E a gente achou o máximo", zoa Débora. "Ninguém vai falar que BBGG é apelido pra Bebê Gigante?", conclui a guitarrista.

O grupo fará uma pré-estreia esta sexta-feira no Bar do Zé, em Campinas, abrindo um show do Rock Rocket. A estreia oficial acontece em Sâo Paulo, no Garagem Estudio, no próximo dia 17 de outubro. E no dia 25 de outubro eles voltam a Campinas, para tocar no Quintal do Gordo. "Acho uma merda que muito lugar legal fechou em SP: CB, Berlin, Vegas, etc. Essas coisas são cíclicas, espero que abram vários outros. A gente faria shows absurdos nesses lugares! Essas minas tocam pra caralho, vocês têm que ver!!", adianta Mairena.


A banda declara que ligou o foda-se para o preconceito contra mulheres no rock. "Na real, eu fico meio incomodado quando chegam pra mim e dizem coisas do tipo 'porra, você não é nada bobo hein? montou uma banda só com gatas'. É óbvio que elas são lindas e maravilhosas, mas eu já conheço elas o suficiente pra saber que elas são muito mais que isso, tanto musicalmente quanto como pessoas. A beleza delas é tipo 5% do que elas são, se você olhar bem", defente o baterista.

E também não quer saber de covers. "Nada contra em montar bandas cover pra se divertir ou ganhar uma grana, mas o que nos move é fazer o nosso próprio lance. Quanto às composições, não há um único 'responsável' por isso. Até agora todas as músicas que estamos tocando foram feitas pelo Mairena, com exceção de Saturday Light, que é composição minha. Mas a ideia é que todos os integrantes contribuam com isso, se assim quiserem", explica Débora.

A primeira faixa e única faixa do grupo divulgada na internet antes das apresentações, Slippery Blonde, já conquistou o comentário de uma mulher que está na música há anos e é uma das principais referências do cenário: Shirley Manson, do Garbage. "Numa noite, antes de dormir, tive a ideia de postar uma mensagem com o link de Slippery Blonde no perfil do Facebook dela. Mas, na real, eu não esperava MESMO que ela fosse responder. Tantos fãs deixam mensagem lá diariamente, né? Me senti até meio idiota enquanto fazia isso. Quando acordei nem me lembrava, provavelmente até iria me esquecer completamente se ela não tivesse respondido. Foi uma das primeiras notificações que vi no meu celular. Não é todo dia que 'Shirley Manson comentou sua publicação' pipoca por lá. Ela disse que amou o som. Logo fui avisar o pessoal da banda, ficou todo mundo desacreditado. Fiquei imaginando ela, uma das nossas maiores inspirações, musa dos anos 90, sentadinha escutando BBGG e curtindo", comemora Débora. "Nem acreditei que fosse verdadeiro por muito tempo. Demorou pra digerir essa informação incrível!", lembra Alessandra.




Logo, logo, os futuros fãs terão mais músicas das roqueiras e roqueiro do BBGG. "Estamos compondo e gravando. Já temos material suficiente pra um EP, mas ainda não decidimos de que forma vamos lançar as músicas", explica Débora. "Eu queria lançar um álbum de figurinhas da BBGG. Eu tenho certeza que um monte de gente iria colecionar. Ou um calendário. Ou uma série de posters. Mas não sei se elas não topam", encerra Mairena.

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