Tchau, MTV



E nesta quinta-feira, 26 de setembro, a MTV Brasil apresentou seu último programa ao vivo. Uma baderna organizada nos prédios da emissora no bairro do Sumaré, em São Paulo, com shows ao vivo, lembranças de melhores momentos e apresentação de videoclipes, daquele jeito que nós costumávamos conhecer. Na segunda, a Viacom assume a marca, que passa a se chamar apenas MTV e irá trazer uma programação totalmente repaginada, na qual está inclusa um programa apresentado pelo Fiuk e um reality show de namoro com o Supla. No mínimo, curioso.

Mas a minha MTV, aquela da qual eu me recordo com saudosismo, já não existia mais há algum tempo. Porque MTV, para mim, era sentar no sofá de casa comendo salgadinho Fabitos e esperar pelas minhas coisas favoritas - afinal, Internet era caro e nada estava disponível a um clique. Se eu não possuía o CD de alguma banda, ou era pedir para o “moleque que gravava CDs” na escola montar um álbum com meu repertório favorito por R$5, ou gravar a música em uma fita cassete enquanto ela tocava na rádio - e geralmente ela poderia vir interrompida por um comercial ou outro - ou esperar algum resquício dela na MTV. Em 2004, esperava tanto pelo clipe de “Boulevard Of Broken Dreams”, do Green Day, que a certo momento já estava até de saco cheio. Mas continuava sendo bom.

Foi nessa MTV dos salgadinhos Fabitos que ouvi os primeiros acordes de uma banda que veio a ser minha favorita. Para os mais entendidos de música à época, com melhor acesso à Internet do que eu, ela já perambulava pelo Napster e era ventilada pelo jornalista Lucio Ribeiro (Popload) aos quatro ventos desde seu primeiro álbum, em 2001. Mas chegaram até mim as notas de guitarra que compunham o solo de uma música do trabalho seguinte, de uma maneira tão sedutora que a saudade até dói. Dói porque, nos dias de hoje, em muitas vezes, o ato de conhecer uma música nova consiste em acessar seu link e ouvi-la enquanto faz outras coisas, sem o prazer de degustá-la, de entender cada uma de suas partes. A minha banda era o Strokes. A minha música era “The End Has No End”.



Alguns bons anos depois disso, em 2011, me vi responsável pela produção de uma coletânea que homenagearia o “Is This It”, o tal primeiro álbum do Strokes, através do blog Rock ‘n’ Beats. A coletânea, que recebeu o nome de “Is This Indie”, resultou em algumas coisas interessantes, como “Barely Legal”, a música que veio a ser minha preferida, transformada em bossa nova, e “Last Nite”, o maior hit dos novaiorquinos, virando o tecnobrega “Rosa” pelas mãos da Banda Uó. E a MTV, por meio da VJ Gaía Passarelli, foi responsável por apresentar este tributo ao Julian Casablancas, vocalista da banda. A única curiosidade que fica: o que será que ele sentiu ao ouvir suas músicas totalmente repaginadas?



Quando eu sentava no sofá e me acabava também com a programação de verão, na qual todas aquelas pessoas se divertindo em uma praia que eu não estava pediam clipes no “Toca Aí”, ou então os vários encontros do Luau MTV, como um inesquecível com Roberta Sá e Fresno, eu jamais imaginaria que a MTV também me confiaria, em 2010, uma entrevista exclusiva com a banda Stereophonics, que estava vindo tocar no Brasil. Era a primeira vez que eu entrevistava alguém em inglês. Era o meu primeiro ano de faculdade. O sotaque do Richard Jones era do País de Gales. Poderia ter sido melhor, mas ainda leio com carinho as linhas que saíram por ali. Nesta época, o Rock ‘n’ Beats fazia parte do portal da emissora na internet, o que nos rendeu também uma faixa de rádio diária com a qual eu talvez tenha tido meu último contato assíduo com alguma programação vinda de lá. O programa do Rock ‘n’ Beats tinha um tema por dia, mas não vai dar para esquecer a música que tocava a toda vez que ele iniciava, “Skeleton Boy”, do Friendly Fires, e a tradicional apresentação de Davi Rocha e Raphael Bispo.

O engraçado é que a gente sempre sabia a programação da rádio, ao contrário das aventuras que eu vivia antes da internet banda larga. Minha vontade de assistir a clipes antigos se resumia a provas de paciência. Gostava de esperar por “Stay Together For The Kids”, do Blink 182 e “Buddy Holly”, do Weezer. Mas gostava também dos novos - sempre tinha uma boa coisa para conhecer através do Disk MTV e seus milhares de VJs que acompanhei por muito tempo. Aposto que todo mundo se perguntava o que o clipe do Jay Vaquer estava fazendo ali de vez em quando. Afinal, quem era Jay Vaquer a não ser um cara que aparecia vez ou outra no Disk MTV?

MTV era o Top Top da Marina Person e do Leo Madeira, que fazia listas de maneiras tão legais que não dava para se desgrudar dele em nenhum momento. Era o Videoclash, do Rafael Losso, no qual torcer para uma banda levar a batalha e ter seu clipe exibido era a maneira mais rápida de ouvir aquele som que você queria tanto. As várias tardes, tardes em que os amigos ainda chamavam para sair pelo telefone e que ninguém vivia com tanta pressa como hoje. Mas a pressa, a velocidade do clique, as informações surgindo à nossa frente a todo momento e o YouTube colaborando com a nossa adquirida falta de paciência matou a MTV como nós conhecemos. Crescemos. E agora, ela também.

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