Este é um balanço sobre o segundo dia de Lollapalooza 2013. O nome deste balanço é UAU!

Com The Black Keys, Queens Of The Stone Age e Alabama Shakes, festival de Perry Farrell traz a verdade sobre um festival de música

por Izadora Pimenta

Patrick Carney, dono do meu coração (Piervi Fonseca/Divulgação Lollapalooza)


Os frequentadores de festival de música sabem de várias coisas, como o fato de que você deve ter uma boa cartela de Dorflex te esperando no dia seguinte e de que as boas e velhas galochas, que sempre esquecemos de comprar, são importantes. Afinal, é preciso passar por muito perrengue para garantir a experiência por completo - assistir a vários shows, encontrar os amigos, beber cervejas nacionais por um preço exorbitante e por aí vai. E todas essas máximas valeram para o segundo dia de Lollapalooza Brasil, mas o festival de Perry Farrell conseguiu trazer, nesta data, uma experiência que, por vezes, fica esquecida: a de ir a um festival para ouvir música boa, fazendo com que o resto seja supérfluo.

Já passei por Rock In Rio, Planeta Terra, os extintos SWU e Natura Nós e sempre achei que uma coisa ou outra não estava no lugar. O último Terra, por exemplo, apesar de boas apresentações de bandas como Best Coast e Garbage, foi um samba do criolo doido - um line-up completamente sem nexo, bandas frias e sem sal, nada que fizesse resgatar o amor contido em assistir a um bom show. Mas no último dia 30 de março, quando algumas coisas já pareciam sem esperança e a lama encobria todo o meu Nike, Gary Clark Jr. deu o primeiro acorde em sua guitarra e o início de um show de gente muito, mas muito foda. 

Brittany Howard, senhoras e senhores! (Flavio Moraes/G1)

Adentrei o Jockey no finalzinho do show do Ludov, que vem a ser também uma das minhas bandas nacionais favoritas. Pelo pouco que vi, eles cumpriram bem a função de abrir os trabalhos por ali, apoiados pelos fãs que os acompanhavam. Quem também fez direitinho o seu papel foi Toro Y Moi. Talvez Chaz Bundick tenha ficado mais isolado do que no Planeta Terra 2011, mas a honra de tocar no palco principal foi merecida - ainda mais quando ele nos trouxe suas músicas com uma vibe mais disco: é aí que ele acerta pra caramba.

Na corrida para o palco alternativo, deu para chegar na grade de Gary Clark Jr. sem esforços. E que homem é Gary Clark Jr., senhores? Que absurdos ele não é capaz de fazer com uma guitarra? Uma pena que, no mesmo horário, estivesse rolando também o Tomahawk de Mike Patton, algo que perdi, queria muito ter visto, mas fiquei sabendo que foi igualmente incrível. Pronto: estava dada a largada da awesomeness.

Uma pena que tal largada tenha sido um pouco broxada pelo Two Door Cinema Club. A banda tem a cara de tocar em um festival no fim de tarde mesmo, com todo mundo pulando ao som de hits como What You Know e Undercover Martyn, mas quebrou um pouco o ritmo. Two Door Cinema Club não é uma banda ruim, mas só não é uma banda inesquecível. Não é uma banda para se invejar. É só uma banda que faz umas musiquinhas legais. Mas logo depois teve ela. Brittany Howard.

Brittany Howard, por alguns instantes, passei a desejar ser como você. Depois, fiquei imaginando como seriam seus filhos com Gary Clark Jr., e saiba que estou dando todo o tipo de força para que esse casal seja concretizado - espero que vocês tenham trocado telefones nos bastidores e que esse filho, ao menos, venha em forma de uma música, já serve. Por fim, fiquei apenas de boca aberta. Você é incrível, Brittany. Você não precisa mais esperar. Seu coração e sua mente já estão abençoadas, e você traz isso em palco perfeitamente. O mundo precisa de frontwomans como você: que tocam com (e na) alma. Arrependimento de ter perdido a galera do Alex Kapranos, que volta ao Brasil na semana que vem e em mais algumas  trezentas semanas à sua escolha? Nenhum (só que também me disseram que foi um bom show).

Josh Homme (Flavio Moraes/G1)

No Queens Of The Stone Age, meus feromônios (e de todos os presentes, homens e mulheres) não puderam deixar de captar o fenômeno que é Josh Homme. Um Deus para todos - das mais diversas formas, das mais diversas interpretações. E o show da banda ajudou a cravar ainda mais o quão incrível era o dia. Som perfeito, som ensurdecedor. Para desmentir aquela ladainha de que uma boa banda de rock tem que tocar cagado por aí. Uma boa banda de rock tem que saber fazer direito. Anytime, anywhere. Jon Theodore, que agora assume as baquetas da banda, também impressiona. Um show para contar por aí que foi, batendo no peito.

Leia aqui minha resenha sobre o show do Queens Of The Stone Age



De Criolo nada vi, mas sei que ele também deve ter segurado a bronca. Se apresentar à noite talvez fosse melhor para o nosso rapper, que fez um show morno no mesmo Terra de Bundick. A ideia, neste momento, era conseguir um bom lugar para assistir aquela que seria a grande apresentação da noite: The Black Keys. E, sem querer, miramos em um lugar no qual era possível captar o som com qualidade, algo que foi muito questionado por grande parte dos presentes.

Querido leitor, o Black Keys não existe.

Que banda.

Que show.

Dan Auerback
e Patrick Carney são sensacionais. Auerback com sua voz metamórfica, capaz de nos trazer as mais diversas emoções. Sua guitarra certeira, arriscada, que conversa conosco a cada momento. E Carney... bem, eu pediria o cara em casamento. Seu jeito de tocar a bateria é contagiante. É apaixonado. Definiu bem a Marília pra mim por Twitter, que disse ter captado um comentário de que "Carney tocando bateria parece um nerd fazendo sexo pela primeira vez". E isso é incrível. Ele vai com sede ao pote. Por alguns instantes, meus olhares eram todos dele.


Ao vivo, Everlasting Light, uma das minhas favoritas da dupla, cresceu de um jeito incrível. Arrepiante. Foi de tirar os óculos de grau para deixar uma lágrima ou outra cair. Naquele momento, eu tive a certeza de que dar importância à música vale a pena. Música é uma coisa boa e apaixonante. E podemos nos sentir completamente correspondidos quando escutamos algo como o visto ontem, neste e em vários outros momentos, como o baixo marcado em Dead And Gone.

Leia aqui minha resenha sobre o show do The Black Keys


Minhas meias estão fedendo cocô de cavalo (na saída, presenciei uma menina dizendo que a lama "parecia brigadeiro" - deu vontade de pedir para ela abaixar e comer então). Todas as partes do meu corpo estão doloridas, gritando separadamente por ajuda. Mas minha alma está limpa. Meu espírito está renovado. Depois de anos de festival, fui a um único dia que valeu a pena por todos os outros - dias e festivais - por aí. Fui a um dia no qual a essência, pura e simplesmente, ultrapassou a megalomania dos eventos brasileiros. Seja lá qual tenha sido a intenção do Lollapalooza Brasil 2013 com isso, eles jogaram bonito. Gol de placa.

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