O último disco da banda predileta



Matheus Weyh fala sobre sua relação com This Is Happening, do LCD Soundsystem


Por Matheus Weyh





O que você sentiu ao escutar, pela primeira vez, o último disco da sua banda predileta? Quando This is Happening foi lançado, em 2010, eu estava estudando Jornalismo. Mas estava estudando "forçadamente". Minha vontade, desde bem guri, era estudar cinema. Durante as primeiras batidas de Dance Yrself Clean, eu pude ver o rumo que minha vida estava levando. "I miss the way the night comes with friends that always make you feel good". Eu sentia falta de estar com meus amigos, não aguentava mais aquele curso. Eu acabei indo pra Cinema, mas isso é história pra outro disco.





A segunda música já nos conta um pouco mais sobre isso. Da angústia do frontman eu-faço-tudo-na-banda. Drunk Girls pode ser considerado um hino à todas aquelas meninas que conhecemos de becos, mogs, kitnets, bdzês, cabarets. "Nossa, olha como eu sou descolada e bebo até a morte". Como o próprio dizia "drunk girls are boringly wild". Uma canção ideal sobre um retrato da hipocrisia juvenil que rezava para ter um papel na série (ruim) Skins.

"One touch is never enough", diz o refrão da terceira música. E realmente, quando você gosta de alguém, a segunda canção mais louca do disco até pode fazer um pouco de sentido. Quando cheguei nessa canção, fui obrigado a ir até a janela do meu quarto e acender um cigarro. Me segurei para não aumentar o volume no talo, eram três da manhã, minha família inteira estava dormindo e eles não sabiam sobre o cigarro. Na verdade, essa música faz muito sentido nesse sentido, certo?

Como o próprio Murphy diz no documentário Shut Up & Play The Hits, David Bowie é um de seus artistas prediletos. E eu tenho certeza que ele escutou a canção Heroes mais vezes do que qualquer pessoa na face da Terra. O modo como ela é construída, o riff inicial, o refrão (pedindo apenas as "lágrimas amargas" da amada) e a melancolia, principalmente. Acredito que desde Heartbeats, com o The Knive, uma canção tão triste e sentimental seja dançante ao ponto de quando o último refrão chega, você já está gritando os "ah uh la la la" e as partes finais da música.

Meus pais acordaram, ótimo.

"Never change, never change, never change". Eu poderia ligar o lado fanboy no extremo e escrever "NÃO ME ABANDONE, LCD". Mas não, vou seguir firme. Talvez, a música mais pop do disco. Uma daquelas canções que poderiam ter sido muito bem gravadas nos anos oitenta. Um ode ao relacionamento que já tá na merda, mas que tu sempre pensa que pode melhorar, que você pode mudar uma coisa. Mas é como diz o último verso, talvez seja esse amor nos teus olhos que teu namorado encontra toda noite". Bravo.

Quando todos pediam à Murphy "po cara, você é mó descolado, gordinho daora e tal. porque não faz um hit para emplacar na JOVEM PAN ou na TRANSAMÉRICA?" Essa canção pode ser considerada a Losing my Edge do This is Happening. E não há melhor modo de explicar do que isso. E ah.. que venham as teorias que essa canção é sobre heroína.

O disco vai chegando ao fim e somos apresentados à Pow Pow. A canção mais "fora da casa" do disco. E talvez, a que nos mostraria o final da banda. A letra dessa canção nos indica que o final está próximo, mas não queremos acreditar. "Minha banda predileta não pode acabar assim!!"





Somebody's Calling Me nos traz um ar dos anos 60 (só que com sintetizadores e todos os tipos de loucura que Murphy faz na calada da noite em um canto da DFA). Tão estranha que chega a ser assustadora. A esposa dele deve ser uma guerreira na vida, porque esse cara.. Só não falo que chega em casa, bate na mulher e estupra os filhos porque o cara é gordinho gente boa.

E então, achando que o This is Happening tinha chegado ao fim, sou apresentado à última faixa do disco começa a tocar e tudo faz sentido.

"Just do it right, make it perfect and real". O que eu estava fazendo em jornalismo? Me enganando? Provavelmente, já sue demorou mais um ano para desistir. Durante seus quase oito minutos, as lágirmas começaram a cair de um modo totalmente de acordo com a letra da música. "Home" deve ser a música mais pessoal desde All My Friends e Someone Great. Como ele mesmo diz, você deve esquecer seu passado, fechar a porta dos tempos terríveis. Eu consegui fazer isso apenas em dezembro desse ano. This is Happening foi mais que um disco, para mim. Foi um adeus à um período da minha vida, um período de me sentir deslocado na vida, em todos os sentidos.

E como diz um dos últimos versos da música:

"Você pode até esquecer o som da nossa voz, mas você NUNCA deve esquecer as coisas que te fazem sorrir. Ninguém sabe do que você está falando, então eu acho que você já está lá. Ninguém vem te ajudar quando você grita e berra, mas são tempos para deixar tudo nos trilhos. Se você tem medo do que precisa, olhe para os lados: você está cercado e nada vai melhorar".

Até breve, James Murphy.




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