Antes do álbum: Arcade Fire



Depois do sucesso de The Suburbs, quais os caminhos que os canadenses irão seguir em seu temido quarto álbum?

por Ana Clara Matta



Eu tenho medo. Caro leitor, eu lhe autorizo a ler a frase anterior com a voz de Regina Duarte. Mas é a maior verdade que eu posso dizer agora: eu tenho medo. Um dos maiores desdobramentos do fanatismo (e eu não tenho nenhum medo de descrever minha relação com a minha banda favorita como fanatismo) é aquela fé cega de que tudo que o objeto de sua admiração produziu ou produzirá no futuro será genial e impecável. Essa característica do fanatismo, curiosamente, escapou ao meu radar. E a cada ano em que o Arcade Fire não me decepciona (e eles nunca me decepcionaram), sobra a sensação de que o momento em que eles me decepcionarão está próximo. Talvez eu sou cética demais para acreditar em uma carreira impecável aos meus ouvidos. Ou talvez, o que fica na memória, me torturando, é o meu lado crítico que não se cansa de analisar os passos das bandas da cena Indie dos últimos anos.

Seria inevitável o lançamento de um quarto álbum fraco? Afinal, foi o que fizeram The Strokes, The Killers, Arctic Monkeys... O momento do tropeço em busca de mudanças sonoras e novos ares parece quase inevitável no rock dos anos 00. Mas se a minha paranoia aponta para um quarto álbum fraco dos canadenses que lá com sua estreia, o intenso Funeral, conquistaram meu coração, todos os fatos apontam para um disco brilhante. E são os fatos que devem ganhar os holofotes.

A análise do futuro de um disco envolve vários elementos. Um deles, por exemplo, é o momento criativo da banda. Além do relançamento, em 2011, do maduro e belíssimo The Suburbs em edição deluxe, com faixas bônus e duas músicas inéditas que acompanham facilmente o padrão de qualidade da banda, em 2012 o Arcade Fire lançou Abraham's Daughter, canção tema do filme Jogos Vorazes. A faixa tem uma ressonância metafórica com o filme, e com o livro que o originou, interessantíssima, e é ousada, relembrando os momentos mais cristalinos de Neon Bible. O Arcade Fire nunca parou, e tudo indica que a criatividade está tão afiada quanto nos últimos anos.



O produtor também é um elemento importante em um álbum. Fãs como eu já estariam satisfeitos com a batuta de Markus Dravs, comandante de Neon Bible e The Suburbs. Mas só estaríamos satisfeitos porque não conhecíamos os outros prognósticos, as outras possibilidades. Agora, temos no horizonte uma colaboração épica. Não espere hits - pois James Murphy, frontman do genial LCD Soundsystem, está no comando, e ele talvez não faça hits. Isso está, de fato, acontecendo. Se Win Butler nomeou e participou do filme Shut up and play the hits, da finada banda de Murphy, a retribuição chega na forma do disco dos sonhos daqueles que cresceram entre Sounds of Silvers e Funerals.

Sobre as influências e a temática sonora do disco? Bem, essa parece apontar para todos os lados, se levarmos em consideração todas as entrevistas da banda pós-lançamento de The Suburbs. Os saudosos podem se alegrar porque a banda anunciou que o sucessor de Suburbs deve retomar o som mais grandioso de Funeral. A aura de mais do mesmo, porém, é quebrada a partir do instante que influências de country e jazz foram indicadas pelo grupo em entrevistas.

Ok, o meu medo tem, sim, fundamento. A pressão nunca esteve tão grande sobre os ombros de Win, Will, Régine e cia. O último disco surpreendeu e levou quase todos os prêmios de respeito na indústria musical para casa, e agora, todos os olhos estão voltados para um certo estúdio em Montreal. Será que voltar às raízes do Funeral não seria perder a maturidade silenciosa conquistada no Suburbs? Será que continuar no atual ritmo de evolução para algo mais melancólico drenará a energia tão célebre da banda? Essas são só suposições de uma fã angustiada. O que importa são os fatos. E esses? Bem... guarde um espaço na sua lista de melhores do ano em 2013.

Um comentário:

  1. "IV" do Arcade Fire e a parceria com James Murphy está longe de ser um disco de dúvidas ou transformações imensas na carreira da banda. Ainda que seja impossível prever o que o coletivo vai entregar em meados do próximo ano, a conversão do grupo em busca de uma sonoridade eletrônica e menos "clássica" já era visível desde Neon Bible e mais ainda ao final de The Suburbs, vide a projeção de sintetizadores e batidas eletrônicas que tomam conta de Sprawl II (Mountains Beyond Mountains). Como bem lembrado no texto, a participação dos canadenses em Shut up and play the hits apenas solidifica que a relação com Murphy era antiga, ainda mais que Win Butler costuma levar de um a dois anos para fechar as bases de cada novo disco do grupo. Como diria Regina Duarte, "TENHO MEDO", entretanto é difícil duvidar do trabalho de um grupo como Arcade Fire, responsável por 3 registros de suma importância para a música da última e da atual década. "The Strokes, The Killers, Arctic Monkeys..." vêm de uma sequência de trabalhos em decadência, contrário do AF que surpreende (e deve surpreender ainda mais) a cada novo disco.

    Se o disco for ruim: PAU NO CU DO WIN BUTLER! E vamos para as novidades e outras centenas de bons discos que 2013 nos reserva

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