por Fábio K, da Visitantes
Trabalho da americana Elaine Reichek |
Meus pais me levam às Bienais de Arte e do Livro desde que eu era pequeno. Até uns bons dez anos, eu achava a Bienal de Arte um saco. Na Bienal de 1996, Jean-Michel Basquiat mudou minha vida: ficar na frente dos quadros dele me deu um barato, e passei a entender melhor porque é que as pessoas produzem arte.
Acompanho praticamente todas as Bienais desde então, entre umas mais políticas e outras mais conceituais. Geralmente são poucos os trabalhos realmente bacanas que não sejam só panfletários-sociais ou só conceituais-elocubradores. Pois nessa Bienal, ironicamente uma das mais low-budget de todos os tempos, os curadores conseguiram equilibrar as duas coisas, e você respira o social, o histórico e o vanguardístico (se é que isso existe) sem se empapuçar. A sensação é de estar realmente sacando o que se expressa na arte de hoje, qual é a respiração atual do inconsciente coletivo terrestre.
Além do conteúdo estar massa, os curadores desta edição aprenderam com os erros das últimas Bienais e conseguiram dividir melhor o espaço: principalmente as obras que usam som e vídeo costumam "vazar" umas nas outras e isso não aconteceu, ponto pra eles.
Bom, vamos ao que interessa: os artistas! Tem MUITA coisa na Bienal e estou escrevendo isso depois da minha primeira ida. Devo ter visto uns 60% da Bienal e prestado atenção de verdade em uns 30%.
Arthur Bispo do Rosário |
No primeiro andar, o cipriota Savvas Christodoulides com suas esculturas bem-humoradas (tipo a Look, He's Fallen Flat On His Face) manda bem logo na entrada, e tem um outro que vamos ficar devendo o nome, que é um vídeo de uma floresta em película numa sala absurdamente escura, que é de ARREPIAR. Fica a dica, se você andar lentamente em direção à tela vai rolar um efeito ótico surreal e você vai se sentir perdido no meio da selva.
Tehching Hsieh |
Segundo andar, fiquei abismado com o Tehching Hsieh, de Taiwan. O cara foi ao extremo da arte ao fazer Performances de Um Ano: em 1980, ele resolveu ficar confinado um ano em uma cela, como performance. Em outro ano, ele se propôs a ficar 365 dias vivendo nas ruas de Nova York, sem nunca entrar em nenhum lugar fechado. E por aí vai. Tem uma sala repleta de fotogramas de um rosto de um chinês, parte de uma dessas performances: é ele.
Enfim, não dá pra ver tudo em uma visita só. O menos interessante são as telas (tem uma de um sueco que é gigantesca, de um tronco, essa é massa), agora as esculturas em geral estão muito boas, as fotografias estão ótimas (tem uma série de um peruano que acha beleza em favelas e situações precárias ao ar livre, muito lindo) e as instalações com vídeos geralmente bem impressionantes.
Mas se você for apenas uma vez mesmo, não escape do brasileiro Arthur Bispo do Rosário, no penúltimo andar, o superstar incontornável dessa edição: o que ele faz com os montes de escritos e formas e colagens é praticamente uma rapsódia do povo brasileiro. Procure saber mais da história deste homem que viveu em um hospício durante mais de cinquenta anos.
Em tempo, mais duas boas lembranças: a americana Elaine Reichek (no mesmo andar do Bispo do Rosário), que faz um trabalho de bordado remetendo à mitologia grega (mais especificamente do mito do Labirinto e do Minotauro) muito denso, e Frédéric Bruly Bouabré, da Costa do Marfim (no andar superior, depois da porta de vidro), que retrata de um jeito simples, lírico e bem africano as crenças e vivências do homem.
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