Álbum da Semana: Unknown Pleasures, Joy Division

Nesta semana, o colunista Murillo Jorge conta sua relação com "Unknown Pleasures", primeiro álbum do Joy Division, e sua importância para a música


por Murillo Jorge




Joy Division, para mim, é sinônimo de qualidade. Apesar de uma banda com carreira relativamente curta, não levando a “nova formação” que deu origem ao New Order, que foi criado após o suicídio do vocalista Ian Curtis, em 1980, o grupo inglês foi mais um dos grandes representantes da boa música. O pós-punk no cenário da época garantiu o espaço que uma banda símbolo de toda uma geração que conquistou seu espaço por ter qualidade e ser pioneira.

O grupo ganhou destaque logo em seu trabalho debutante. Unkown Pleasures é sombrio, é bonito, é inteligente, envolvente, cruel, pesado... Mas sem ser agressivo aos ouvidos. Como é colocado na capa do LP, “...não é um conceito, é um enigma”. Para mim, o trabalho é uma espécie de diário do líder e vocalista da banda: conta suas inseguranças, desesperos e até mesmo esperanças. E é por isso que ganha o destaque como meu álbum da semana.




De início, o som do Joy Division é complicado de ser ouvido, admito. O vocal anasalado, as linhas de baixo fortes, os teclados, a bateria insistente e firme de Stephen Morris e a repetição melódica pode soar estranho no começo. Eu detesto essa palavra, mas é um som “intimista”. Não é um som que irá te animar em 100% ou para ouvir em uma viagem para a praia. É denso, tocante e é triste... E é bem provável que em alguns minutos, algum amigo/parente solte a clássica frase: “Nossa, coloca uma música mais animada! Tá muito triste isso aí”. Eu não sei de onde as pessoas tiram ideia de que música boa é só música feliz, mas... Não interessa no momento.

Unknown Pleasures foi lançado em 1979 e tem dez faixas com uma sinergia incrível. É realmente delicado escolher uma, ou duas, para definir como as melhores. Seria injusto com as outras faixas e mais ainda com o álbum. Mesmo porque, para um trabalho ser considerado minimamente aceitável e ganhar relativo destaque, para mim, é necessário que tenha ao menos metade se suas músicas boas.

Desorder, She’s Lost Control, Shadowplay (regravada por The Killers), New Dawn Fades e Interzone são as minhas preferidas. Mas todas, absolutamente todas as músicas são excelentes. Algumas faixas que citei tiveram outras versões feitas pelo grupo, mas como sou bem chato, prefiro as originais. Na minha opinião, o maior “pecado” do Joy Division é que seus álbuns não eram suficientemente comerciais na época. Tanto que Unknown Pleasures ocupou apenas a singela 17ª posição nas paradas britânicas.




Mesmo assim, o trabalho recebeu críticas positivas, mas o destaque e sucesso vieram com Closer, o segundo e último álbum da banda. Principalmente depois do sucesso alcançado pela faixa Love Will Tear Us Apart. Além disso, a morte de Ian teve grande peso, provando que o mundo musical/artístico é injusto e cruel, não sendo comum que você só seja reverenciado ou ganhe destaque apenas quando morrer - não em vida, como deveria.

Tudo em Unknown Pleasures é mágico, não só seu conteúdo. Sua capa, que simboliza a morte de uma estrela por um medidor de pulsos, é emblemática e enigmática. Qualquer analogia que você faça entre a estrela e Ian Curtis é meramente figurativa. Sendo assim, o primeiro trabalho do grupo de Salford é um meio condutor de emoções. Para mim, é uma das várias provas de que a música tem um poder incrível, que mesmo com a tristeza e dilemas psicológicos, desperta nossos prazeres desconhecidos.


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