Uma música e uma história: No Cars Go

Você achava que o lugar que o Arcade Fire descreve em "No Cars Go" só existia no mundo dos sonhos? Pois saiba que ele pode estar pertinho



por Izadora Pimenta

relato de Camila Fracalossi

Você conhece um lugar no qual os carros não vão? Navios, aviões, naves espaciais ou submarinos, nenhum desses também não vai? Segundo o Arcade Fire, este tal lugar fica entre "aquele clique da luz e o começo de um sonho" - a nossa preciosa hora de dormir. Mas não é tão impossível assim encontrar um lugar real para se desligar do mundo.

A Camila Fracalossi, estudante de Medicina Veterinária, encontrou este lugar em uma viagem para uma cidade no estado de Minas Gerais, intitulada Delfinópolis. Estes meios de transporte podem facilmente aparecer por lá (talvez não o submarino, o submarino não), mas a sensação, pelo que Camila descreve, é de que não, ninguém pode atingir estes segundos de paz. Estes segundos necessários, nos quais a gente pode deixar tudo pra lá.

1 - dê o play no vídeo abaixo:



2 - leia o relato da Camila:

Fomos viajar com um amigo para o rancho dos pais dele, em Delfinópolis-MG. Era noite de uma véspera de feriado e foram cerca de sete horas de viagem, no total - eu, meu amigo e meu irmão na traseira de uma Silverado, junto com todas as outras bagagens (que na verdade, não eram poucas, haha). Tínhamos sido previamente avisados sobre a questão de falta de sinal de celular, por exemplo, então estávamos preparados (porém apreensivos, hahaha) para tal. Vale lembrar que eu vejo meu namorado a cada seis meses e falo com ele todas as noites por telefone, então já sabia que ia ser difícil.


Depois do centro da cidade, ainda tinha cerca de 1h de estrada de terra pra chegar no rancho. Não tinha energia elétrica; as coisas "de geladeira" ficavam numa caixa com gelo e como estava friozinho, o banho era de caneca, com água esquentada no fogão.

Tínhamos a represa pra passear de barco, andar de caiaque, nadar e tudo mais e fomos até um camping, onde fizemos uma trilha e nadamos na cachoeira. Fazíamos fogueira quase toda noite e ficávamos conversando em volta dela por horas. A energia elétrica (com gerador a gasolina) só era ligada uma vez ao dia, à noite, para termos luz e assistirmos um pouco de televisão. Durante o dia, jogávamos jogos, conversávamos, descansávamos (afinal, esse era o principal propósito da viagem!) e tal. O máximo de eletrônicos que tínhamos eram dois Gameboy e um iPod.

A experiência foi boa porque era quase fim de semestre (começo de Junho) na faculdade, então a correria das primeiras provas parciais tinha recentemente acabado, mas a correria das provas finais já chegava. Essa pausa deu muito tempo pra pensar, descansar e aproveitar a vida, pura e simples como ela é: aproveitar as boas companhias, não ter que ter pressa de nada, compartilhar experiências e respirar ar puro. Lembro-me que um dos momentos que mais me marcaram, o que eu mais gostei, foi quando apagamos todas as luzes da casa e deixamos apenas a fogueira acesa, enquanto o pai do meu amigo nos mostrava as estrelas.

Sempre fui curiosa, mas há muitos e muitos anos não tinha parado pra olhar pro céu. Aquele momento foi de extrema validade, porque eu percebi o quanto eu perdia correndo.

O lugar no qual os carros não vão, segundo Camila

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